A França é conhecida como: le pays des 300 fromages. Um antigo ditado diz que no país é possível encontrar um queijo diferente para cada dia do ano. O número de registros é em torno de 400. A França é definitivamente o país dos queijos. A grande variedade se dá pelas diferentes técnicas de produção, relacionadas ao tipo de fermentação, leveduras, fungos, introdução de condimentos, etc. A maioria dos queijos é feita com leite de vaca, o que demonstra que a partir de uma única matéria-prima é possível criar centenas de produtos. Os franceses são mestres na criatividade culinária, não?! E, eles realmente adoram queijo, normalmente comem um "set" de queijos depois da sobremesa. Como eu e o Érico também somos amantes dos queijos, na nossa passagem por Paris, decidimos provar vários tipos de queijo. Na Grande Èpicerie perdemos um tempinho admirando o balcão de queijos e decidindo quais iríamos provar. Nossa mesa de queijos ficou assim:
Brie de Meaux AOP: o queijo Brie é um dos mais famosos queijos franceses. Sua massa é bem macia, amarelo pálido, com uma casquinha branca decorrente da fermentação, sabor de nozes e leve odor de fermentação. É produzido com leite bovino. Possivelmente foi criado no final do século 18 na Abadia de Notre-Dame Jouarre, que fica na província de Seine-et-Marne, na região francesa Île-de-France. As províncias francesas aptas a produzi-lo com este nome são: Seine-et-Marne, Loiret, Meuse, Aube, Marne, Haute-Marne e Yonne. Recomenda-se que seja degustado com vinho bourgogne, côtes du Rhône, pinot noir da Alsácia, saint-émilion, pomerol, champagne ou cidras da região produtora do próprio queijo.
Camembert au Calvados: também muito conhecido e muitas vezes confundido com o Brie, mas de sabor completamente diferente. Sua massa também é macia, de cor marfim a amarelo claro, a casquinha geralmente é branca, mas no caso do Calvados, é como um pó marrom que parece nozes moídas. O sabor é frutado e levemente intenso. É produzido com leite bovino e depois embebido em Calvados (destilado de maçã). A "mãe" do Camembert é Marie Harel, uma queijeira da região da Normandia. Na verdade Marie Harel, em 1791, deu nome ao Camembert e aprimorou a sua técnica de fabricação depois de uma especialização em Brie. A origem do queijo, antes de ser chamado de Camembert, é de 1680, onde registros tratam do queijo que é especialidade da província de Camembert. É citado também no "Dictionnaire Universel Géographique et Historique" de Thomas Corneille, em 1708. Produzido pelas cidades da província da Normandia. Recomenda-se degustá-lo com vinho tinto, jovem e pouco tânico.
Cantal (entre-deux) AOP: é considerado o queijo mais antigo da França. É um queijo de massa semi-dura, com coloração que varia do marfim ao amarelo claro, a casca é fina, rígida, cinza-esbranquiçado com manchas laranjas. O sabor lembra nozes e baunilha, com um toque de manteiga e creme. Aroma de especiarias e manteiga. É produzido com leite bovino colocado em formas que sofrem pressão, não é cozido. Esse queijo recebeu a denominação oficial em 1298, entretanto é muito mais antigo do que isso, tendo sido citado por Plínio, o velho no livro XI da
Naturalis historia. Acredita-se que tenha sido criado a mais de 2000 anos. É originário do maciço central, região de Auvergne e pode ser produzido pelas províncias de Allier, Puy-de-Dome, Haute-Loire, Cantal, Aveyron e Corrèze. Degustar com vinhos tintos da região (côtes de Auvergne), Cahors, Corbières (branco ou tinto), Bourgogne tinto.
Crottin fermenter: é uma denominação genérica para queijos feitos com leite de cabra cru submetido à fermentação. A massa é firme, um pouco esfarelenta e de cor branca, a casca branca (fungos) podendo apresentar pontos levemente azulados. O sabor é varia do picante ao ácido e o gosto de leite de cabra bem acentuado. Crottin na verdade significa esterco, o que deve ser decorrente do seu sabor forte e da coloração amarelo-marrom que adquire quando envelhecido. Degustar com vinhos brancos do vale do Loire. O Crottin mais conhecido, que possui AOC, é o Crottin de Chavignol (centro do vale do Loire).
Leicester red: é um queijo inglês. Ops! Mas não eram queijos franceses?! Sim, mas não resistimos a curiosidade de provar este queijo alaranjado. A massa é firme e de coloração que varia do alaranjado claro ao alaranjado intenso. A casca é rígida e levemente esbranquiçada. O sabor é de nozes, bem suave. É um queijo de leite bovino que é colorido com extrato de cenoura ou beterraba. Esse queijo foi criado no século XVII, na cidade de Leicestershire; de onde vem seu nome. É uma opção ao queijo cheddar. Degustar com cervejas do tipo Ale.
Ste Maure de Touraine AOP: é um queijo de cabra com características bem interessantes. A massa é firme, um pouco esfarelenta e de coloração branca levemente acinzentada. A parte externa é também branca, mas um pouco mais acinzentada e firme. É em formato de mini-tora, com uma palha de centeio atravessando toda a extensão longitudinal do queijo. O gosto é levemente adocicado e lembra nozes. Sua origem provavelmente é moura, quando na época carolíngia (século IX) os mouros introduziram o cultivo de cabras na região. Entretanto, a primeira menção escrita deste queijo data de 1793. É produzido pela região Indre-et-Loire. Degustar com vinho bourgogne branco, tintos do vale do Loire, Gamay ou brancos da Alsácia.
Roquefort AOP: dos queijos azuis talvez seja o mais conhecido, ao lado do Gorgonzola (italiano). A coloração externa é branco-creme ou marfim com aspecto de "suado". A massa é macia e levemente esfarelenta, a coloração marfim divide espaço com o bolor (
Penicillium roqueforti) de cor prioritariamente cinza, podendo ser azul ou verde. O sabor é picante, bastante intenso. É produzido com leite cru de ovelhas da raça Lacaune. Disputa com o Cantal o título de queijo mais antigo da França. Sua origem confunde-se com a chegada dos rutenos à região de Aveyron no século VIII a.C.. Plínio, o velho também fala do queijo gaulês no
Naturalis historia. Especula-se que Julio César teria provado o queijo em Saint-Affrique, cidade vizinha de Roquefort. O queijo possui uma lenda: um pastor de ovelhas teria visto uma linda e jovem donzela ao longe nas sombras. Guardou o seu lanche (queijo fresco de leite de ovelha e pão) em uma pequena caverna, para mantê-lo fresco, deixou seu cão cuidando do rebanho e saiu atrás da donzela. Alguns dias depois, sem ter alcançado a donzela, ele retornou faminto. Encontrou o pão e o queijo cobertos de bolor. Mesmo com um pouco de receio e levado pela fome, provou o queijo. Achou delicioso! Assim surgiu o roquefort. Também é originário do maciço central e podem produzi-lo as províncias de Aveyron, Tarn, Hérault, Lozère, Gard e Aude. Deve ser degustado com vinhos doces como Sauternes, Monbazillac ou Porto; também harmoniza bem com vinhos tintos secos potentes como Amarone e Côte du Rhône.
Neste dia, tomamos um
vinho tinto bourgogne, do qual falerei em outra postagem. Os queijos estavam uma verdadeira delícia! Vamos ver se fazemos a mesma coisa com os queijos italianos...
Siglas:
AOP - Appellation d'origine protégée - selo europeu de identificação dos produtos franceses, belgas e luxemburgueses que garante a origem e características de um produto regional.
AOC - Appellation d'origine contrôlée - selo oficial francês e suiço que garante a origem e características de um produto regional.
Fontes:
Univers fromages
Liste de fromages français
Le fromage Cantal
Roquefort Society
Taste Camembert
Camembert AOC
Sainte Maure de Touraine