quarta-feira, 13 de outubro de 2010

França, o país dos queijos!

A França é conhecida como: le pays des 300 fromages. Um antigo ditado diz que no país é possível encontrar um queijo diferente para cada dia do ano. O número de registros é em torno de 400. A França é definitivamente o país dos queijos. A grande variedade se dá pelas diferentes técnicas de produção, relacionadas ao tipo de fermentação, leveduras, fungos, introdução de condimentos, etc. A maioria dos queijos é feita com leite de vaca, o que demonstra que a partir de uma única matéria-prima é possível criar centenas de produtos. Os franceses são mestres na criatividade culinária, não?! E, eles realmente adoram queijo, normalmente comem um "set" de queijos depois da sobremesa. Como eu e o Érico também somos amantes dos queijos, na nossa passagem por Paris, decidimos provar vários tipos de queijo. Na Grande Èpicerie perdemos um tempinho admirando o balcão de queijos e decidindo quais iríamos provar. Nossa mesa de queijos ficou assim:



Brie de Meaux AOP: o queijo Brie é um dos mais famosos queijos franceses. Sua massa é bem macia, amarelo pálido, com uma casquinha branca decorrente da fermentação, sabor de nozes e leve odor de fermentação. É produzido com leite bovino. Possivelmente foi criado no final do século 18 na Abadia de Notre-Dame Jouarre, que fica na província de Seine-et-Marne, na região francesa Île-de-France. As províncias francesas aptas a produzi-lo com este nome são: Seine-et-Marne, Loiret, Meuse, Aube, Marne, Haute-Marne e Yonne. Recomenda-se que seja degustado com vinho bourgogne, côtes du Rhône, pinot noir da Alsácia, saint-émilion, pomerol, champagne ou cidras da região produtora do próprio queijo.

Camembert au Calvados: também muito conhecido e muitas vezes confundido com o Brie, mas de sabor completamente diferente. Sua massa também é macia, de cor marfim a amarelo claro, a casquinha geralmente é branca, mas no caso do Calvados, é como um pó marrom que parece nozes moídas. O sabor é frutado e levemente intenso. É produzido com leite bovino e depois embebido em Calvados (destilado de maçã). A "mãe" do Camembert é Marie Harel, uma queijeira da região da Normandia. Na verdade Marie Harel, em 1791, deu nome ao Camembert e aprimorou a sua técnica de fabricação depois de uma especialização em Brie. A origem do queijo, antes de ser chamado de Camembert, é de 1680, onde registros tratam do queijo que é especialidade da província de Camembert. É citado também no "Dictionnaire Universel Géographique et Historique" de Thomas Corneille, em 1708. Produzido pelas cidades da província da Normandia. Recomenda-se degustá-lo com vinho tinto, jovem e pouco tânico.

Cantal (entre-deux) AOP: é considerado o queijo mais antigo da França. É um queijo de massa semi-dura, com coloração que varia do marfim ao amarelo claro, a casca é fina, rígida, cinza-esbranquiçado com manchas laranjas. O sabor lembra nozes e baunilha, com um toque de manteiga e creme. Aroma de especiarias e manteiga. É produzido com leite bovino colocado em formas que sofrem pressão, não é cozido. Esse queijo recebeu a denominação oficial em 1298, entretanto é muito mais antigo do que isso, tendo sido citado por Plínio, o velho no livro XI da Naturalis historia. Acredita-se que tenha sido criado a mais de 2000 anos. É originário do maciço central, região de Auvergne e pode ser produzido pelas províncias de Allier, Puy-de-Dome, Haute-Loire, Cantal, Aveyron e Corrèze. Degustar com vinhos tintos da região (côtes de Auvergne), Cahors, Corbières (branco ou tinto), Bourgogne tinto.

Crottin fermenter: é uma denominação genérica para queijos feitos com leite de cabra cru submetido à fermentação. A massa é firme, um pouco esfarelenta e de cor branca, a casca branca (fungos) podendo apresentar pontos levemente azulados. O sabor é varia do picante ao ácido e o gosto de leite de cabra bem acentuado. Crottin na verdade significa esterco, o que deve ser decorrente do seu sabor forte e da coloração amarelo-marrom que adquire quando envelhecido. Degustar com vinhos brancos do vale do Loire. O Crottin mais conhecido, que possui AOC, é o Crottin de Chavignol (centro do vale do Loire).

Leicester red: é um queijo inglês. Ops! Mas não eram queijos franceses?! Sim, mas não resistimos a curiosidade de provar este queijo alaranjado. A massa é firme e de coloração que varia do alaranjado claro ao alaranjado intenso. A casca é rígida e levemente esbranquiçada. O sabor é de nozes, bem suave. É um queijo de leite bovino que é colorido com extrato de cenoura ou beterraba. Esse queijo foi criado no século XVII, na cidade de Leicestershire; de onde vem seu nome. É uma opção ao queijo cheddar. Degustar com cervejas do tipo Ale.

Ste Maure de Touraine AOP: é um queijo de cabra com características bem interessantes. A massa é firme, um pouco esfarelenta e de coloração branca levemente acinzentada. A parte externa é também branca, mas um pouco mais acinzentada e firme. É em formato de mini-tora, com uma palha de centeio atravessando toda a extensão longitudinal do queijo. O gosto é levemente adocicado e lembra nozes. Sua origem provavelmente é moura, quando na época carolíngia (século IX) os mouros introduziram o cultivo de cabras na região. Entretanto, a primeira menção escrita deste queijo data de 1793. É produzido pela região Indre-et-Loire. Degustar com vinho bourgogne branco, tintos do vale do Loire, Gamay ou brancos da Alsácia.

Roquefort AOP: dos queijos azuis talvez seja o mais conhecido, ao lado do Gorgonzola (italiano). A coloração externa é branco-creme ou marfim com aspecto de "suado". A massa é macia e levemente esfarelenta, a coloração marfim divide espaço com o bolor (Penicillium roqueforti) de cor prioritariamente cinza, podendo ser azul ou verde. O sabor é picante, bastante intenso. É produzido com leite cru de ovelhas da raça Lacaune. Disputa com o Cantal o título de queijo mais antigo da França. Sua origem confunde-se com a chegada dos rutenos à região de Aveyron no século VIII a.C.. Plínio, o velho também fala do queijo gaulês no Naturalis historia. Especula-se que Julio César teria provado o queijo em Saint-Affrique, cidade vizinha de Roquefort. O queijo possui uma lenda: um pastor de ovelhas teria visto uma linda e jovem donzela ao longe nas sombras. Guardou o seu lanche (queijo fresco de leite de ovelha e pão) em uma pequena caverna, para mantê-lo fresco, deixou seu cão cuidando do rebanho e saiu atrás da donzela. Alguns dias depois, sem ter alcançado a donzela, ele retornou faminto. Encontrou o pão e o queijo cobertos de bolor. Mesmo com um pouco de receio e levado pela fome, provou o queijo. Achou delicioso! Assim surgiu o roquefort. Também é originário do maciço central e podem produzi-lo as províncias de Aveyron, Tarn, Hérault, Lozère, Gard e Aude. Deve ser degustado com vinhos doces como Sauternes, Monbazillac ou Porto; também harmoniza bem com vinhos tintos secos potentes como Amarone e Côte du Rhône.

Neste dia, tomamos um vinho tinto bourgogne, do qual falerei em outra postagem. Os queijos estavam uma verdadeira delícia! Vamos ver se fazemos a mesma coisa com os queijos italianos...

Siglas:
AOP - Appellation d'origine protégée - selo europeu de identificação dos produtos franceses, belgas e luxemburgueses que garante a origem e características de um produto regional.
AOC - Appellation d'origine contrôlée - selo oficial francês e suiço que garante a origem e características de um produto regional.

Fontes:
Univers fromages 
Liste de fromages français 
Le fromage Cantal 
Roquefort Society
Taste Camembert
Camembert AOC
Sainte Maure de Touraine

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Crème Caramel

Hoje é dia das crianças, na verdade dia de Nossa Senhora. Decidi relembrar os tempos de criança e qual foi a primeira coisa que me veio a cabeça?! Pudim de leite condensado! Já havia falado para vocês que minha mãe faz o melhor pudim do mundo. Toda vez que eu colocava os pés em Curitiba para visitar a família e os amigos, minha mãe fazia o delicioso, maravilhoso, perfeito pudim de leite condensado. Dá água-na-boca só de pensar. Uma verdadeira delícia. E, desculpem, mas ninguém no mundo faz pudim de leite condensado como a minha mãe. Ela servia o pudim de sobremesa no almoço e no jantar não tinha mais, geralmente eu só poupava o pedaço do meu pai. Afinal, ele é meu pai e um grande formiga! Deixar uma formiga sem o seu docinho é extremamente perigoso. Lembro que certa vez levei um pudim, feito pela minha mãe, para a fazenda do Guga. Se me recordo bem, era um dos festivais gastronômicos do Gutão. Guardamos o pudim para o último dia, quando teria menos gente. Uma das meninas tinha feito um arroz doce com laranja... (que estava um terror, mas cada um na sua, ela era meio light macrobiótica, então respeito a falta de açúcar e sabor). O coitado do arroz doce ficou abandonado e o pudim simplesmente desapareceu em segundos! Ok, pudim é pudim... Mas o da Frau Elisabeth é "O" pudim! Vocês devem estar se perguntando por que o título é "crème caramel" se estou falando de pudim. Crème caramel é como os franceses chamam o nosso delicioso pudim de leite. Segue uma receita de Pudim de Leite, ou Crème Caramel, como preferirem. É delicioso, mas admito que não chega nem aos pés do pudim da minha mãe.

Dicas:
- Você pode usar baunilha fresca, é só raspar as favas no leite e fervê-lo um pouco.
- Cuidado com o caramelo, a temperatura é muito alta, pode provocar queimaduras graves.
- O caramelo está pronto quando levemente dourado, não exagere no cozimento e nem use fogo alto, pois você pode queimar o caramelo.
- Se for usar forminhas de silicone, verifique antes a temperatura máxima que elas suportam. O caramelo pode derreter as forminhas.
- Tenha paciência, desenformar só depois de frio, ou você pode desmontar completamente o seu pudim.
- O pudim fica mais saboroso quando bem geladinho!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A incrível destruição das costelinhas

Amsterdã é uma cidade absolutamente fenomenal. Quando chegamos a Roma e começamos a fazer nossos planos de passeios pela Europa, disse ao Érico que Amsterdã era uma cidade que ele não podia deixar de conhecer. Ele concordou, vamos dizer que sem uma super-animação. As pessoas quando falam da Europa lembram-se sempre de Paris, Londres, Roma, Barcelona e, em geral, esquecem-se da deliciosa Amsterdã. A cidade sempre está vínculada ao uso de maconha e prostituição, mas é muito injusto pensar que resume-se a isso. O povo holandês é extremamente simpático, receptivo, as pessoas são bem humoradas, sorriem e são muito educadas. O liberalismo não é só com relação às drogas leves e a prostituição, mas também se reflete na aceitação de diferentes culturas e respeito aos não holandeses, o que nem sempre acontece em outros países da Europa. Decidimos visitar o Ricardo em Berlim e na volta passar por Bruxelas, para visitar o Dimitri, no meio desse trajeto coloquei Amsterdã. O meio do caminho e uma forma de não viajar só de avião, afinal, o Érico não gosta muito de voar. Ele ficou absolutamente encantado com a cidade. Linda, viva, aconchegante! Apesar do temporal que caia sobre nossas cabeças... literalmente encharcados. Gostou tanto que decidiu aprender holandês, talvez estimulado pelas conversas com a Mevrouw Proost, uma senhora muito doce que conhecemos no bar perto do hotel e com quem aproveitamos duas deliciosas noites de conversa no bar. É, Amsterdã tem o poder de conquistar as pessoas. Eu já adorava a cidade, mas dessa vez, depois de alguns meses em Roma, percebi uma coisa, que quando se vem do Brasil não fica muito clara: A Holanda tem vacas!!!!!!! Parece patético, mas sim, estou falando de vacas!!!! Vacas!!!! Muitas vacas!!!! E isso significa não só queijos deliciosos como também carne de verdade. Os italianos tem a mania maledeta de vitelo, arght, comestível, mas não é carne de verdade. É um frango disfarçado de boi. Bom, mas isso não vem ao caso. A questão é que, como a Holanda tem vacas, existe um número imenso de churrascarias por Amsterdã. Churrascarias argentinas! Entramos em uma dessas churrascarias, uma das grandes, demos uma olhada no cardápio, aparentemente todos os cortes argentinos: ancho, chorizo...
Literalmente: A incrível destruição das costelinhas!
Mas, nossos olhinhos brilharam para a frase: "infinite spare ribs", vulgo, coma costelinhas até explodir. As costelinhas chegaram, mas nada é perfeito. Não eram exatamente ao gosto argentino tradicional, pois estavam encharcadas de molho barbecue, mas tudo bem, estavam deliciosas assim mesmo. O paladar dos holandeses é um intermediário entre o dos alemães e o dos ingleses... Nesse caso o molho barbecue está explicado. Apesar da pequena frustração, foi muito gostoso. Saimos rolando do restaurante! Não tive oportunidade de testar, mas espero que eles não sirvam um delicioso bife de chorizo coberto de barbecue... hehehehehe